28 de dezembro de 2010

Fecho

Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.

"Polícia" de bom gosto

Gente da Minha Terra (SIC Radical) não foi um prodígio de bom gosto. Não falo das piadas sobre a ilha Terceira: apesar de terceirense, permaneço convicto de que os meus vizinhos foram tacanhos e mesquinhos ao queixarem-se da sátira à suposta "grande concentração de homossexuais" existente na ilha. Outras piadas, no entanto, chocaram a minha sensibilidade.


Tenho dificuldades, confesso, em rir-me do humor sobre crianças raptadas ou com cancro, para citar apenas dois exemplos. E nem sempre (nem sempre, repito) foi com especial prazer que assisti ao programa de Rui Sinel de Cordes.


Mas isso é um juízo de gosto. Se gosto, vejo. Se não gosto, não vejo - e se, mesmo não gostando, tenho de ver, então é porque estou a trabalhar. Coisa diferente é esta deliberação da ERC que manda a SIC Radical "abster-se" de emitir episódios do programa com "conteúdos que desrespeitem a dignidade de pessoas".


E outra coisa ainda, quanto a mim grave, é Azeredo Lopes vir entretanto a público defender a deliberação com frases como: "No que toca ao humor, a liberdade de expressão não é ilimitada."


O único limite à liberdade de expressão de uma pessoa, nos domínios do humor como em qualquer outro, é a liberdade da pessoa seguinte. Em Gente da Minha Terra pode haver ofensas à sensibilidade seja de quem for, mas não há, seguramente, ofensas à liberdade de quem quer que seja. E, mesmo que houvesse, não deveria caber a uma instituição como a ERC policiá-las. Estaríamos, quando muito, a falar de matéria para os tribunais.


A ERC está a descambar - e está a descambar perigosamente. Tal como, a partir do momento em que foi criada, era inevitável que acontecesse.

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