Gente da Minha Terra (SIC Radical) não foi um prodígio de bom gosto. Não falo das piadas sobre a ilha Terceira: apesar de terceirense, permaneço convicto de que os meus vizinhos foram tacanhos e mesquinhos ao queixarem-se da sátira à suposta "grande concentração de homossexuais" existente na ilha. Outras piadas, no entanto, chocaram a minha sensibilidade.
Tenho dificuldades, confesso, em rir-me do humor sobre crianças raptadas ou com cancro, para citar apenas dois exemplos. E nem sempre (nem sempre, repito) foi com especial prazer que assisti ao programa de Rui Sinel de Cordes.
Mas isso é um juízo de gosto. Se gosto, vejo. Se não gosto, não vejo - e se, mesmo não gostando, tenho de ver, então é porque estou a trabalhar. Coisa diferente é esta deliberação da ERC que manda a SIC Radical "abster-se" de emitir episódios do programa com "conteúdos que desrespeitem a dignidade de pessoas".
E outra coisa ainda, quanto a mim grave, é Azeredo Lopes vir entretanto a público defender a deliberação com frases como: "No que toca ao humor, a liberdade de expressão não é ilimitada."
O único limite à liberdade de expressão de uma pessoa, nos domínios do humor como em qualquer outro, é a liberdade da pessoa seguinte. Em Gente da Minha Terra pode haver ofensas à sensibilidade seja de quem for, mas não há, seguramente, ofensas à liberdade de quem quer que seja. E, mesmo que houvesse, não deveria caber a uma instituição como a ERC policiá-las. Estaríamos, quando muito, a falar de matéria para os tribunais.
A ERC está a descambar - e está a descambar perigosamente. Tal como, a partir do momento em que foi criada, era inevitável que acontecesse.
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