Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.Quatro estrelas
Com outro tipo de polimento, o programa Portugueses pelo Mundo (RTP1) podia ser a melhor coisa da actual televisão portuguesa. Nesse particular, a falta de arrogância é uma desvantagem. As infografias são pobres, a realização tipo "TV em movimento" datada - e, quando enfim entra em cena a banda sonora, chega a parecer que regressámos aos anos 80 e ao velho Vamos Jogar no Totobola.
Assim, dificilmente alguma vez teremos uma excelente colecção de DVD. Mas temos, em todo o caso, um bom programa de televisão.
A ideia é simples, como quase sempre são as boas ideias: uma equipa de reportagem desloca-se a uma cidade estrangeira, com o intuito de recapitular a sua história, transmitir a sua atmosfera e conhecer as suas heterodoxias - e, a partir daí, fica tudo a cargo dos imigrantes portugueses que lá vivem, incluindo recantos e tradições, ansiedades e sonhos, etnias e modus vivendi.
Podia chamar-se-lhe "um programa de viagens", mas seria uma tolice. Aquelas pessoas não se limitam, como os viajantes de hoje em dia, a coleccionar carimbos no passaporte e a acumular memórias tontas para contar à mesa do café.
Aquelas pessoas efectivamente experimentam, entrosam-se, amam e odeiam. E, quase sempre, dão-nos uma lição sobre o que é "conhecer" um local - uma lição que tantas vezes envergonha até a relação que nós temos com as próprias cidades onde nascemos e vivemos há décadas.
São pessoas especiais, naturalmente. Gente educada, muito mais próxima do fenómeno da "fuga de cérebros" do que da velha emigração operária, que se instalava em Paris durante 30 anos sem alguma vez sequer subir à Torre Eiffel. Mas também por isso são o paradigma de um novo tempo. A globalização é isto.