A melhor de todas
Há algo em Rita Blanco, e seja qual for o género em causa, que simplesmente ilumina o ecrã
Assiste-se a O Destino do Senhor Sousa (RTP2, sábado à noite), de resto apenas mais um filme português feito veículo para o overacting de Luís Miguel Cintra, e torna-se a constatar como Rita Blanco é uma das nossas melhores actrizes de audiovisual, se não mesmo a melhor. A concorrência, já se sabe, é limitadíssima. Mas há algo em Rita (como o há, entre os homens, em Nicolau Breyner) que simplesmente ilumina o ecrã.
E eu, correndo o risco de voltar a ser acusado de ignorância - é sempre acusado de ignorância quem denuncie os actores como a classe mais persistentemente medíocre do nosso panorama artístico, o que de alguma maneira eu torno a fazer aqui -, não consigo dissociar esse brilho da própria atitude diária de Rita Blanco enquanto persona televisiva. Encontramo-la numa entrevista, no júri de um concurso ou numa participação especial, e ela é sempre "uma de nós": uma mulher do mundo, com as idiossincrasias e as obsessões e mesmo as ignorâncias que todos os dias nos rodeiam.
Resultado: uma delicada combinação entre a absoluta naturalidade com que qualquer papel lhe assenta (no teatro, no cinema ou na TV, telenovelas incluídas) e o magnetismo que qualquer das suas personagens exerce sobre nós (e trate-se de drama ou de comédia, de entretenimento ou de manifestos pejados de compromisso sociológico). Tudo isso, de resto, está em O Destino do Senhor Sousa - e é filme de apenas alguns minutos, quase todos centrados em Luís Miguel Cintra.