


Lá vou eu ser politicamente incorrecto, mas paciência, é a minha opinião. É quando se vêem interpretações magistrais como a de Lília Cabral na novela Viver a Vida (SIC, de segunda a sexta-feira) que se percebe como, apesar de todos os esforços, a ficção portuguesa ainda está a léguas da brasileira. Eu sei que as novelas portuguesas da TVI têm o dobro da audiência da brasileira que passa em horário nobre; eu sei que o público português sente-se mais motivado a seguir histórias que lhe são, geográfica e culturalmente, mais próximas. Eu sei isso tudo e nada disso vai mudar nos tempos mais próximos. E constato também que temos já um leque de actores competentes, capaz de dar vida a uma história morta. Mas a Teresa a que Lília Cabral dá voz, corpo e vida é uma personagem tão complexa como nós todos. Nenhum de nós, na vida real, é sempre bonzinho ou sempre vilão. Temos dias. E emoções. E forças e fraquezas. E seguranças e incertezas. E euforias e dramas. E altos e baixos.
Lília Cabral, que justamente com Manoel Carlos, em Páginas da Vida, já tinha interpretado de forma superior uma maquiavélica Marta, revela agora em Viver a Vida uma enorme paleta de capacidades. Aquela personagem é uma e várias ao mesmo tempo: a mulher trocada por uma mais nova; a mãe doce mas amargurada por ter filhas tão diferentes; a mulher de sucesso que sofre com a idade; a solidão aos 50 e tal anos, a quem o dinheiro, todo o dinheiro do mundo, não dá felicidade. Dura e violenta, insegura e ternurenta, esta Teresa revela uma actriz fabulosa. Ela irrita, ela emociona, ela arrebata. Não há muitas actrizes assim em Portugal.