Não se pode fazer TV só para distrair?
É óptimo contracenar nesta coluna com o Joel Neto. Por várias razões: porque ele escreve como poucos, porque ele tem um olhar muito mais ríspido sobre a televisão do que eu, porque são dois olhares complementares. E, last but not the least, porque, felizmente, não raramente, discordamos um do outro. E digo felizmente porque neste jornal não há asfixia democrática.
Pois perguntava o Joel, ontem por estas bandas, "de que serve a RTP rejeitar longuíssimos serões de telenovelas e limitar-nos a longuíssimos serões de concursos?". A pergunta é pertinente e vem a propósito do elenco de propostas apresentado quarta-feira por José Fragoso para a nova grelha da RTP, que inclui um concurso de Sónia Araújo à sexta, um concurso de Catarina Furtado ao sábado e um concurso de Sílvia Alberto e João Baião ao domingo. Eu não sei se são concursos a mais, mas, tanto quanto é possível falar antes de abrir os melões, qualquer uma das propostas parece-me entretenimento familiar, que não ofende, que não ridiculariza, que pode perfeitamente caber numa televisão de serviço público. É que, caramba, nem todos os concursos da RTP têm de ensinar os portugueses a falar, a contar, a converter escudos em euros, a dar-lhes "cultura" ou a ensiná-los a não cuspir para o chão.
É verdade que a RTP tem obrigações que o seu contrato de concessão lhe impõe, mas exigir à televisão pública que faça sozinha o papel das escolas e dos pais é injusto. E, mais grave, um mau serviço ao país, na cada vez maior desresponsabilização de cada um de nós enquanto cidadãos.