16 de fevereiro de 2011

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.


Mundinho deprimente

Suspiramos: "Meu Deus, como é pobre e mesquinho, o chamado mundo dos famosos..." - e mesmo assim, regra geral, não fazemos sequer ideia do quão pobre e mesquinho ele é. Três quartos das "notícias" que as revistas publicam sobre os "famosos" são uma fraude. Três quartos dos gestos através dos quais as revistas confrontam os "famosos" com as "notícias" sobre eles são encenados. Três quartos dos benefícios que os "famosos" retiram deste circo são financeiros. E três quartos dos leitores morrerão de riso no dia em que verdadeiramente se dê conta da pobreza e da mesquinhez dos valores envolvidos.

Está bem, concedo: "três quartos" é força de expressão - não faço sequer ideia da estatística. E, no entanto, conheço alguma coisa sobre os paparazzi portugueses. A primeira curiosidade é que "um paparazzo" já não é, no mundo pobrezinho dos "famosos", um profissional da fotografia, mas a situação em si. As revistas "fazem" paparazzi, "compram" paparazzi e "publicam" paparazzi. E, entretanto, "combinam" paparazzi também: os "famosos" telefonam para lá a informar da hora a que vão entrar ou sair de determinada loja e elas comprometem-se a ficar por detrás da planta do canto, a fingir-se escondidas. No fim, mandam o cheque: 200 euros, 150, às vezes 100 apenas - é consoante aquilo que valha o "famoso" em causa.


Pois é este o mundo que Júlia Pinheiro quer levar para as manhãs da SIC. Todos os dias, Querida Júlia terá um "jornal cor-de-rosa", com uma "redacção" onde se produzirão as "notícias", os "paparazzi" e os comentários (não, comentários não leva aspas) sobre este triste mundinho. Um sucesso, de certeza absoluta. E isso ainda será o mais constrangedor.


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