25 de agosto de 2010

Fecho


Boa noite. Hoje, em fecho, trazemos-lhe mais um crónica da autoria de Joel Neto e retirada do Diário de Notícias.
Às 21:00, há Cine-Opinião para ver no seu blogue de televisão!


Utopiase cinismos

Do debate anteontem suscitado por este jornal a propósito da silly season, retenho sobretudo as palavras de António Granado: "Tem tudo a ver com os recursos à disposição das redacções, que obrigam a fazer uma coisa que não é bem jornalismo." Defende o professor da Universidade Nova que é por isso (a escassez de recursos) que todos os anos atravessamos a fase noticiosa assumidamente tonta que marca o nosso Verão, ao longo do qual os jornais e as rádios e as televisões sobrevivem de fait divers e pouco mais.

Tem toda a razão, António Granado - e, por outro lado, não tem razão nenhuma. A comunicação social está depauperadíssima de meios, sim. Por outro lado, mesmo quando não o estava, as "quotas" já existiam. Em Fevereiro, vendiam-se os namorados. Em Abril, as férias de sonho. Em Junho, os incêndios. Em Setembro, o regresso às aulas. Em Novembro, os presentes de Natal - e, pelo meio, "os segredos de José Mourinho", "os mistérios da Maçonaria" e, com sorte, "a campanha da selecção nacional" rumo a mais um título internacional.

Sempre foi assim e sempre assim será, com mais ou com menos meios. O quatro poder, como exige António Granado, é uma utopia. Devem os jornalistas procurar essa utopia? Naturalmente - de outra forma nem imagino como possam chegar à noite a casa sequer com uma vaga sensação de que a sua vida faz sentido. É passível de concretização, "apesar" do público existente, essa utopia? Naturalmente que não. Nada, na economia contemporânea, existe "apesar" do público.

Os media são um negócio. No dia em que o aceitarmos já não teremos de ser apenas cínicos: haverá, enfim, um novo espaço para resgatar pelo menos uma parte da nossa missão original.

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