14 de julho de 2010

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje inclui mais uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.
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Os olhos azuis de Sara

O beijo de Casillas a Sara Carbonero, a belíssima rapariga que a Telecinco transformou na mais famosa jornalista desportiva a sul do Pólo Norte, teve tanto de comovente como de deprimente. Ao fim de dois meses a ver homens do mundo inteiro babarem para cima da namorada, o guarda-redes da selecção espanhola quis deixar claro que, para além da taça, também a rapariga lhe pertence. Essa é a parte comovente. Entretanto, Sara, cujo ar de Aishwaria Ray latina já havia percorrido o mundo, tornou a capitalizar, fazendo-se ainda mais protagonista da festa do que já era. E essa, claro, é a parte deprimente.

Não preciso explicar, suponho, porque é que nada do que se passou com Sara Carbonero na África do Sul tem o que quer que seja de jornalístico. O mínimo que a Telecinco devia ter feito, e reconhecendo o inalienável direito de uma jornalista sua namorar com um jogador da selecção, era deixar a rapariga em casa. Mas isso já nem é pedido que se faça, por esta altura: a oportunidade era boa de mais para ser desperdiçada - e pouco me admiraria se outras estações ao redor do globo não estivessem já a pensar em como poderão montar um recurso semelhante para próximos campeonatos. Mas inquieta--me a forma como futebol e televisão se diluíram um no outro ao longo daquele mês. O futebol não foi bem futebol: foi apenas uma espécie de intervalo entre as curiosidades, o imenso voyeurismo e a inevitável contabilidade publicitária a que tinha de corresponder. E a televisão também não foi propriamente televisão: foi, mais do que um canal de transmissão da festa, o mais conspícuo dos seus agentes, constantemente à procura de uma oportunidade de transformar-se a si próprio "na" notícia.

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