Fecho

Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Nuno Azinheira, retirada do Diário de Notícias.

Indigno e degradantes

A teoria do quanto pior melhor aplica-se como uma luva à estreia de Peso Pesado. A mim, que sou gordo, não me repugna a ideia de um programa que obriga concorrentes a emagrecer. Não me repugna a cena da pesagem, nem as corridas na lama, nem os exercícios puxados, nem uma certa pressão psicológica que se abate sobre cada um dos obesos que vão ao concurso. Este é um formato internacional de sucesso, toda a gente que concorre sabe ao que vai, ninguém vai ao engano. Além disso, já o defendi aqui várias vezes a propósito de outros programas, a televisão é um negócio, não é a Santa Casa da Misericórdia, que quer ajudar os gordos, coitadinhos, a ficarem magros e ainda lhes dar 50 mil euros.

A questão não está na legalidade, nem na legitimidade, nem na moralidade, nem no sentido estético. A questão está na defesa de valores de que a televisão não se pode arredar. Peso Pesado é um reality show. Mas, sendo um reality show, podia não violar a dignidade da pessoa humana. Neste sentido, porém, o que vi na primeira sessão da nova aposta da SIC ultrapassa todos os limites e faz parecer os Big Brothers da vida uma brincadeira de miúdos. Nos reality shows anteriores, os concorrentes mostram apenas a sua boçalidade, a sua falta de perspectivas e de horizontes, a sua falta de cultura, a sua falta de educação e, já agora, a sua vontade de serem famosos. Em Peso Pesado os gordos são tratados como gado, para quem se atira água. O público adorou, claro, vê-los a rastejar na lama, a espumar pela boca, e a mostrar as banhas com camisolas propositadamente dois números abaixo do que os concorrentes vestem na realidade.

O programa vai humanizar-se, eu sei. Mas a primeira impressão foi de difícil digestão. Quase tanto como uma feijoada à portuguesa...