10 de março de 2011

Fecho


Boa noite. Hoje em fecho trazemos-lhe mais uma crónica de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.

A luta continua

Luta É Alegria, uma espécie de récita de uma espécie de pós-revista à portuguesa, com uma melodia esquemática, uma letra tonta e uma interpretação caricatural como principais cartões-de-visita, será, naturalmente, um pobre representante da música nacional no Festival da Eurovisão.

O problema, porém, não é esse: muitas outras canções nos têm subrepresentado (e até, muitas vezes, envergonhado) perante a intelligentsia da chamada "música ligeira europeia", que aliás vale ela própria já muito pouco.

O problema é que, apesar de muitos terem identificado ali sinais de um "descontentamento do povo" em relação ao "statu quo da música portuguesa", o que se verificou neste Festival RTP da Canção - ao qual, paradoxalmente, concorriam algumas das canções menos más dos últimos anos - foi coisa bem diferente. Os portugueses perderam a paciência para o festival, o que é legítimo. Perderam declaradamente o bom gosto, o que, bem vistas as coisas, também não é ilegítimo (e já vem acontecendo há algum tempo). E perderam em definitivo o brio na sua representação internacional, o que, sendo tão legítimo quanto o resto, não deixa de ser preocupante.

Os portugueses (ou aqueles portugueses que votaram no Festival, eventualmente todos enquadráveis num mesmo tipo) não votaram por protesto: votaram no gozo. E é isso que torna Luta É Alegria num triplo êxito.

Por um lado, vai à Eurovisão; por outro, chamou mais atenções sobre o festival do que todos os últimos dez ou quinze vencedores juntos; e, por outro ainda, provou que o povo, português ou não, continua o mesmo que um dia escolheu Barrabás. Não dar parabéns aos Homens da Luta, depois disto tudo, até me ficava mal.

Nenhum comentário: