9 de fevereiro de 2011

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.


O regresso de Dallas

Não me inquieta, quanto a esta notícia do regresso da série Dallas, que os actores estejam drasticamente mudados e, portanto, desprovidos da sua capacidade original para gerar empatia. Importa-me, a partir deste inesperado regresso com cujo anúncio a cadeia TNT se recoloca de repente no centro da actualidade, perceber até que ponto o de-senvolvimento das cópias permite novo êxito a um original, ainda por cima retrabalhado.


Deve Dostoievski ser lido à luz das urgências da Rússia do século XIX ou continua, como gostamos de dizer, "absolutamente actual", apesar da ascensão e da queda do existencialismo? Deve Orson Welles ser visto a partir das idiossincrasias do cinema dos anos 40, pouco depois da chegada da cor, ou mantém ainda "toda a acuidade", apesar de a sua narrativa não linear ter sido sucessivamente copiada e melhorada e canonizada e abandonada? O debate perdurará.


Curiosamente, Dallas quer levá-lo para o inusitado domínio das soap operas. Diz a TNT que, apesar de Larry Hagman, Patrick Duffy, Linda Grey e as suas personagens estarem vinte anos mais velhos, ainda há na intriga dilemas capazes de permitir à série bater-se com a concorrência. Admitamos que sim. Mas, nesse caso, estaremos mesmo a falar de Dallas, a mãe de todas as telenovelas, ou de uma versão "actualizada" dela, de resto capaz de vencer duas décadas supostamente pujantes na história da televisão?



Aguardo para ver. Ou muito me engano ou alguém sairá daqui ridicularizado: aqueles que agora recuperam Dallas ou aqueles que, afinal, não conseguiram, em vinte anos, elevar a ficção para televisão a uma fasquia a que a velhíssima e empoeiradíssima Dallas já não fosse capaz de chegar.

Nenhum comentário: