Falar Televisão

Luxo? Que luxo?

A Grande Reportagem SIC do último domingo dá que pensar. Denominado Ensaio sobre o Luxo, o espaço informativo de Carnaxide começou por enunciar que o luxo pode ter várias denominações para diferentes pessoas. Uma caixa de lápis, um par de sapatos ou uma garrafa de água potável são bens colocados ao mesmo nível consoante a realidade de uma dada região.

No entanto, com o decorrer da reportagem, logo se percebeu que o objectivo de Carnaxide seria mesmo dar destaque a Jô Caneças, uma celebridade portuguesa com um poder de compra acima da média. Num país onde a crise faz parte do dia-a-dia da maior parte dos cidadãos, os vestidos ainda por estrear da mulher de Álvaro Caneças, as suas colecções de cristais, os empregados, os espantos por ainda não terem chegado sapatos novos às suas lojas de eleição e os onze metros e vinte de roupeiros, vão totalmente contra a realidade nacional. Neste sentido, qual o objectivo desta reportagem?

Os outros exemplos foram mais contidos. Indíviduos cientes do estado do país, com paixões desenvolvidas desde a infância, procuram gozar o seu quotidiano de acordo com algumas regalias permitidas pelos seus estilos de vida. Barcos, carros topo de gama e antigos, foram os bens pelos quais os entrevistados demonstraram sentir prazer em possuí-los.

Empresários de sucesso, com profissões que permitem ter uma vida de luxo. A questão coloca-se: será mesmo o dinheiro e o estilo de vida o luxo? Mais: será que esta reportagem fez sentido? Notou-se que a estação de Carnaxide pretendeu dar uma janela televisiva a Jô Caneças que, entristecida, confessou que existem muitas "mulheres falsas" prestes a elogiá-la quando na verdade pensam o oposto.

Sinceramente, numa altura em que o país está de pernas para o ar, com pessoas a dormirem na rua, sem dinheiro para comer, questiona-se o tema desta reportagem. Para quê entrevistar Jô Caneças? Para as donas de casa desejosas de ter um vestido de um dado estilista ambicionarem terem o mesmo poder de compra que esta socialite?

Já agora, e mais importante que tudo, esta reportagem ensinou algo? Não. Misturar alhos com bugalhos nunca deu bom resultado.