Amália, de Carlos Coelho da Silva, passou com demasiado estrépito pelo cinema, aqui há uns anos - e qualquer opinião que então se tivesse sobre ele corria o risco de resultar tanto desse estrépito como das suas condições intrínsecas.
Revi-o no outro dia, protegido pela obscuridade dos canais TVCine e acondicionado no gravador de vídeo do Meo, e cheguei a uma perturbadora conclusão: é obrigatório, mas bem pior do que me parecera da primeira vez.
A ideia de contar a conturbada-e-lírica vida de Amália Rodrigues em filme, naturalmente, permanece oportuna. O guião não é mau de todo (alguns diálogos são pelo menos razoáveis), a fotografia está bem feita e a direcção de arte quase consegue forjar uma orquestração equilibrada para a generalidade dos factores. Entretanto, porém, há as pessoas.
Os actores, à excepção de Sandra Barata Belo (que está, digamos, medíocre), estão desastrosos. Os figurantes, como sempre acontece na nossa ficção, não têm a mínima noção do que estão ali a fazer. E, como se não bastasse, há, a pairar sobre ambas as categorias, uma caracterização tão deficiente que as únicas diferenças entre a Amália "velha" e Freddy Krueger são as garras e o chapéu.
E, se acham que estou a ser duro, então talvez devessem dar uma olhadela a duas ou três cenas de antologia com Ricardo Carriço e Natália Luísa a fazer (penso eu) de portugueses-que-falam-brasileiro. Ou de Amália, já no fim da vida, a remoer nas agruras da biografia. Quase tudo mau - e quase tudo, estou convencido, "embrulhado" ao primeiro take.
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