12 de março de 2011

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.


Mau de mais

Amália, de Carlos Coelho da Silva, passou com demasiado estrépito pelo cinema, aqui há uns anos - e qualquer opinião que então se tivesse sobre ele corria o risco de resultar tanto desse estrépito como das suas condições intrínsecas.



Revi-o no outro dia, protegido pela obscuridade dos canais TVCine e acondicionado no gravador de vídeo do Meo, e cheguei a uma perturbadora conclusão: é obrigatório, mas bem pior do que me parecera da primeira vez.


A ideia de contar a conturbada-e-lírica vida de Amália Rodrigues em filme, naturalmente, permanece oportuna. O guião não é mau de todo (alguns diálogos são pelo menos razoáveis), a fotografia está bem feita e a direcção de arte quase consegue forjar uma orquestração equilibrada para a generalidade dos factores. Entretanto, porém, há as pessoas.


Os actores, à excepção de Sandra Barata Belo (que está, digamos, medíocre), estão desastrosos. Os figurantes, como sempre acontece na nossa ficção, não têm a mínima noção do que estão ali a fazer. E, como se não bastasse, há, a pairar sobre ambas as categorias, uma caracterização tão deficiente que as únicas diferenças entre a Amália "velha" e Freddy Krueger são as garras e o chapéu.


E, se acham que estou a ser duro, então talvez devessem dar uma olhadela a duas ou três cenas de antologia com Ricardo Carriço e Natália Luísa a fazer (penso eu) de portugueses-que-falam-brasileiro. Ou de Amália, já no fim da vida, a remoer nas agruras da biografia. Quase tudo mau - e quase tudo, estou convencido, "embrulhado" ao primeiro take.


No cinema, somos às vezes bons quando somos marginais, mas somos regularmente maus quando somos mainstream. E às vezes é preciso um ecrã de TV para percebê-lo bem.

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