26 de janeiro de 2011

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Nuno Azinheira, retirada do Diário de Notícias.


O significado de um gesto

O mau gosto não compensou. O episódio de sexta-feira de Depois da Vi-da, com Carlos Castro (!), transmitido duas semanas depois de o cronista social ter sido morto em Nova Iorque, foi um flop. Sim, um flop. Porque as audiências, apesar de serem em si um valor absoluto, são também valores relativos.
O que leva uma estação privada e comercial a produzir um programa em que os convidados falam com os seus mortos através de uma medium? As audiências. O que leva uma estação privada e comercial a querer exibir um programa destes uma semana depois de o convidado central ter sido assassinado? As audiências. E o que leva, enfim, uma estação privada e comercial a decidir avançar com a sua exibição, uma semana depois das cerimónias fúnebres do assassinado, num acto que dividiu a sociedade portuguesa entre os conceitos maniqueístas do Bem e do Mal? As audiências.


Não sejamos ingénuos. É verdade que o programa em que Carlos Castro (vivo) falava com a mãe (morta) estava gravado há um mês. Mas o bom-senso e o bom gosto mandariam que não fosse exibido. A estação privada perdia dinheiro, sim, mas ganhava respeito. Assim, preferiu aproveitar-se do momento, cavalgar a onda mediática, e pensar na quantidade de portugueses que, espevitados pelo seu atávico voyeurismo, veriam o programa.



Depois da Vida registou 634 mil espectadores. O valor é alto? Em termos absolutos, sim. Em termos relativos, não. Teve menos audiência que o programa da semana anterior com Carlos Lopes. E foi um dos menos vistos, quer em audiência média, quer em quota de mercado, de toda a primeira temporada, transmitida no ano passado.


A TVI diz que o programa não é sensacionalista. O que interessa, porém, não é o conteúdo. É o gesto e o seu significado.


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