14 de janeiro de 2011

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Nuno Azinheira, retirada do Diário de Notícias.


O crime perfeito

O homicídio da Times Square, que vitimou de forma brutal e bizarra o colunista Carlos Castro, e que continua a preencher a agenda mediática em Portugal, é o crime perfeito para qualquer guionista de televisão ou cinema. E, garanto-vos, não há-de faltar muito tempo para que quem vive da escrita apresente a ideia a um qualquer programador, produtor ou realizador. Pode ser horrível dizê-lo neste momento, sobretudo para as famílias e amigos dos dois protagonistas, mas esta história tem tudo para ser um sucesso. Tem os ingredientes certos para prender os espectadores: a história de um homem que foi violado em criança, desprezado pelo pai, que fugiu de Angola, que se travestiu em Lisboa, que viveu na rua, que sofreu por amor, que adorava os palcos e os holofotes e que achava que ia ser morto.


A história deste homem cruza-se com a de um jovem bonito que sonhava ser modelo, estudante universitário de desporto, jogador de basquetebol, com sucesso entre as mulheres, que participou num programa de televisão e tinha o sonho de chegar longe na moda.


As vidas do homem e do jovem cruzam-se nos bastidores das estrelas. Mas também na cama. Em Lisboa, em Madrid, em Londres e, finalmente, em Nova Iorque. A cidade da morte de Carlos Castro era, por ironia do destino, a sua cidade de vida. Por lá passou mais de 30 vezes, em busca de diversão cultural. Lá foi feliz. Lá sonhou morrer. De lá escreveu. E deixou escrito que era lá que queria que as suas cinzas repousassem, como purpurinas. Lá foi morto e castrado com um saca-rolhas.


Não há enredo melhor: basta ver as audiências dos telejornais, consultar os fóruns de discussão na Net, perceber o número de page views nos sites. Nada vende mais do que um crime suculento.

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