Temos insistido no facto de que, por esta altura, a ficção portuguesa perde em pouco para a brasileira. Eu mesmo já aqui escrevi que, bem vistas as coisas, os próprios actores brasileiros começam a ficar cada vez mais ao nível dos actores portugueses. Mas persistem diferenças fundamentais - e uma delas é a ideia de autoria (a que se junta, entretanto, o respeito prestado a ela).
Na entrevista que há dias concedeu ao DN, Miguel Falabella diz coisas como: "Quero ser lembrado como alguém que não teve medo do sucesso", "A Globo precisava de uma boa comédia e então falou comigo", "Há muitas famílias que comem graças a mim". No essencial, quer ser lembrado - e, portanto, tem de ser colocado em perspectiva. Mas nem por isso a entrevista em causa deixa de lançar luz sobre uma série de aspectos importantes a propósito de como se faz e vê novelas deste e do outro lado do Atlântico.
No Brasil, retalhar uma telenovela como a SIC vinha retalhando (a expressão era dele, Falabella, mas era feliz) Negócio da China, até finalmente a cancelar, ainda seria um absurdo.
Cá, a integridade da autoria é secundária - e, se alguma prova disso fosse precisa, bastava lembrar a bonomia com que, ainda recentemente, António Barreira garantiu que aumentar ou cortar uma centena de episódios a uma trama não interferiria na sua qualidade.
Entretanto, o público vê o que lhe dão. Pode gostar mais ou menos, sentir mais ou menos intimidade com as personagens, correr para o televisor com mais ou menos afã.
Bem lá no fundo, é o canal a quem entregou a sua agenda que determina se a TV se manterá ligada ou não. De resto, dure o episódio 40 ou 20 minutos, com ou sem cenas cortadas, e poucos darão por isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário