29 de dezembro de 2010

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Nuno Azinheira, retirada do Diário de Notícias.

Indigna boçalidade

A ideia de uma ERC armada em polícia de costumes ou de grande educadora do povo não me agrada minimamente. Mas a ideia de a televisão, mesmo a pretexto da liberdade criativa, ser uma espécie de cavalo à solta, sem qualquer noção do bom gosto e do bom senso, e achando estar acima de tudo e todos, também não suporto. Assim, vamos direito ao assunto para não perdermos muito tempo com ele. Que me desculpem o Pedro Boucherie Mendes e o Joel Neto, mas os excertos de Gente da Minha Terra a que ERC apontou - e bem! - o dedo ultrapassam tudo o que é admissível numa sociedade civilizada. Gozar com um jovem desaparecido há uma década, sem que os pais tenham ao menos conseguido chorar o corpo do filho, ou fazer piadas com a morte do sobrinho de Simão Sabrosa, engolido pelo mar, não é humor. É uma profunda falta de sensibilidade, uma imbecilidade, uma estupidez.


O pretenso génio criativo de Rui Sinel de Cordes não fere a liberdade de ninguém. Mas ofende de forma violentíssima a dignidade e aquilo que é mais sagrado numa sociedade dita evoluída: o civismo e o respeito pelo outro.
Não me venham falar de atentados ao regime democrático, à liberdade criativa. Chamem-me quadrado, antiquado, o que quiserem. A televisão, mesmo no cabo, não pode ser um covil de boçalidades, onde se diz tudo o que nos vem à cabeça.


Eu também acho que a intervenção da ERC é inexplicável. Porque mesmo num país livre e democrático, Boucherie Mendes jamais deveria ter permitido a exibição daquele programa. Eu também acho que a intervenção da ERC é vergonhosa. Porque apenas recomenda e não proíbe. Nisto das liberdades, não pode haver meias palavras nem contemplações.

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