13 de outubro de 2010

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria do sociólogo Mário Contumélias, retirada do Jornal de Notícias.


O Segredo da TVI

Vamos lá a ver, é fácil dizer mal da "Casa dos Segredos". O programa é um atentado à inteligência, fabrica emoções de plástico, apela à coscuvilhice, à dissimulação, à mentira, ao baixo nível. Confunde a plateia com o país - "Portugal inteiro andou esta semana num desassossego para comentar os segredos"..., afirmava, no domingo, categoricamente, Julia Pinheiro.

O programa atinge o climax com a expulsão seja de qual for o morador da "casa", para a qual apela à participação do público, através de chamadas de valor acrescentado, está bem de ver. Produz celebridades que de admirável nada têm (provavelmente nunca terão) e que podem acabar mal, esgotados os seus minutos de fama; já aconteceu. A "Casa dos Segredos" desqualifica quem o vê. É mediaticamente e socialmente irrecomendável.

É também fácil dizer mal de Júlia Pinheiro; neste "rosto com que a Europa fita", gostamos de escárnio e mal-dizer. A pivô perdeu a vergonha, vendeu-se ao mau gosto, dá vida à pepineira. Comparada com ela, Teresa Guilherme, nos seus tempos do "Big Brother", era uma apresentadora ingénua e envergonhada, pouco à vontade, sóbria.

Porém, ainda que tudo o que acima disse seja a minha opinião, o certo é que é possível outro ponto de vista. O programa vai ao encontro do gosto de uma faixa significativa de telespectadores, logo, compreende o mercado e satisfaz-lhe necessidades, portanto, compreensivelmente, tem sucesso, assegura um respeitável "share".

O cenário tem profundidade e algum glamour; os concorrentes são jovens e bonitos; o jogo entretém, é bem urdido, tem malícia, intriga, envolvência quanto baste. E Júlia Pinheiro está como peixe na água, em boa forma, sem perder o pé um segundo que seja, mesmo quando desvenda um segredo de polichinelo que a imprensa da especialidade ja revelara há dias, um revés perigoso e difícil de engolir.

Dito isto, podia sobrar a questão - que pobre país é este, em que um tal programa é um êxito de bilheteira? Mas não é por aí que se explica o fenómeno. A "Casa dos Segredos" estende no tempo um formato iniciado com o "Big Brother", que teve e tem sucesso noutros países. Trata-se de uma perversidade da "aldeia global" que McLuhan, inventor do conceito, não previu. Dito de outra forma, trata-se da globalização da mediocridade. É esse o segredo da TVI.

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