5 de outubro de 2010

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Nuno Azinheira, retirada do Diário de Notícias.

A vida é tramada!

A televisão portuguesa é hoje pior do que há dez anos? Emídio Rangel, hoje aqui no DN, acha que sim. Eu acho que não. É feita com menos dinheiro, é verdade, porque ninguém pode viver acima da realidade. E a realidade, por muito que custe a Rangel, é o que é: já ninguém paga o que pagava há uma década, já ninguém investe o que investia em 1995. O dinheiro está mais caro, o juro está mais alto, as despesas subiram, as receitas caíram. Se há dez anos, ainda era possível comprar um reality show bombástico para o deixar na gaveta e impedir que a concorrência o comprasse (como Rangel sugeriu a Balsemão fazer em 2000, com o Big Brother), hoje quem propusesse isso sujeitava-se a ser despedida com justa causa

As novelas portuguesas estão hoje melhores do que há dez anos, os estúdios e redacções estão mais bem apetrechados tecnicamente, as novas tecnologias permitem uma cenografia na informação que não era possível nos tempos de Rangel.

Há menos ideias? Talvez. Há menos dinheiro para executá-las tão bem como antigamente? Seguramente.

O problema, ao contrário do que sugere Rangel, não é falta de vontade ou de visão. É apenas um sinal dos tempos e dos apertos financeiros. As nossas avós ensinaram-nos que tempo é dinheiro. E o que acontece é que hoje há menos tempo para ensaiar, há menos tempo para gravar, há menos tempo para parar, apagar e gravar de novo. A vida é assim, tramada. Mas é com ela que temos de viver. Rangel sempre foi considerado um óptimo programador com dinheiro. Ele sabe como ninguém que sonhar alto custa milhões. Para ele, hoje a televisão perdeu capacidade de sonhar e de vender sonhos. Se calhar, não é bem isso. Passou é a sonhar mais acordada. A crise é lixada...

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