1 de setembro de 2010

Para lá das 24


Muito boa noite. Seja bem-vindo ao Para lá das 24 de hoje!


A representação é uma arte. Os actores são artistas. O trabalho que constroem ao longo da vida é uma prova disso. No entanto, nem todos os profissionais que criam uma personagem, que a personificam, têm o talento para o fazer.
A nova geração de actores é uma mais valia para a televisão portuguesa. Todavia, conseguirão eles chegar aos anos de carreira e estrelato que os outros mais velhos conseguiram alcançar?


Este Para lá das 24 ocorre a propósito da morte de Maria Dulce. Durante muito tempo deixei de ver esta actriz e, como tal, pensei que estaria dedicada ao teatro. Apesar de não ter sido uma profissional que eu tenha seguido o seu trabalho, era uma cara que gostava de ver nas novelas. A sua vontade de representar, o seu engenho e graciosidade eram únicos. No entanto, e desde 2006, todos se esqueceram de Maria Dulce. Há menos de um mês, num dos vários top’s do Companhia das Manhãs, esta actriz foi recordada como um das mais esquecidas na televisão.
Vítor Espadinha e Cristinha Cavalinhos falaram dela com um orgulho enorme em Maria Dulce ser portuguesa, e ter realizado trabalhos magníficos ao longo dos seus sessenta anos de carreira. Pensei eu na altura, que poderia fazer uma edição da rubrica Esqueceram-se de Mim sobre esta actriz. Infelizmente acabei por não ir a tempo. No entanto, isso não me impediu de dedicar um Para Lá das 24 sobre ela.


Acrescento ainda nesta rubrica a atitude que as televisões têm de recordar os artistas quando estes falecem.
Levam-me sempre a pensar o seguinte: “enquanto estiveram vivos ninguém lhes ligou, mas quando morrem todos querem homenageá-los”. Fará isto sentido?

Compreendo perfeitamente que, para a ética de uma estação de televisão, seja necessário noticiar a morte de um grande artista. No entanto, e segundo o bom senso de cada ser humano, será prudente falar de um actor, com o qual não se desenvolveu uma forte relação profissional?


Maria Dulce foi encontrada morta em casa. No chão. Indepentemente das causas deste óbito, a tristeza que esta actriz levava há alguns anos, deve ter contribuído para o seu estado de doença. O telefone teimava em tocar, para a convidar para integrar um elenco de uma novela ou para participações especiais em séries. Apesar de, nestes últimos tempos, saber-se que estava escalada para uma peça de teatro, é pena que as televisões raramente a tenham chamado para trabalhar.

Depois deste esquecimento, na minha opinião, é impossível dedicar mais de cinco minutos a recordar uma artista deste tamanho. Ela merecia muito mais que os “cinco minutos de fama” num noticiário. Merecia ter feito parte de uma casa, ter dado a cara por uma estação, ter feito o que sempre lhe deu prazer, mas que nem sempre teve oportunidade: representar.


Deixo aqui um recado para as televisões: para a próxima vez que queiram noticiar a morte de uma grande estrela, pensem no valor que lhe deram durante a sua vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns por recordarem esta maravilhosa actriz!!!
Se ela tivesse silicone ou pousada nua para uma revista teria muitos papeis para desempenhar, mas como foi uma actriz culta, transparente e muito profissional deixaram-na "morrer no canto da solidão e do desrepeito"!!!
Até sempre Maria Dulce...