Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.
Jornalismo à antiga
Revê-se Eu e os Meus Irmãos, a grande reportagem de Cândida Pinto e Jorge Pelicano agora exibida no Festival Internacional de Grandes Reportagens (França), e percebem-se as razões por que inspirou a criação de uma organização não governamental. O Terceiro Mundo, já se sabe, está agora pejado de ONG perigosas, com objectivos paralelos obscuros e criminosos, incluindo a espoliação, o tráfico e o próprio terrorismo. Por esta, que recebeu o nome da própria reportagem, porém, é fácil pôr as mãos no fogo.
Porque o trabalho de que nasce não é paternalista ou manipulado, excitadinho ou tampouco "fácil". Desde que deixámos de meter estilo com a bandeira do "jornalismo de investigação" e a substituímos pela da "grande reportagem", o que não tem faltado pelos canais nacionais é isso: a tentação de pegar nos pobrezinhos e fazer da dor deles a nossa lágrima. Pelo contrário, Eu e os Meus Irmãos é um pequeno oásis de contenção, nunca perdendo de vista que ali, entre os meninos de Inhambane, fracasso e resistência estão de mãos dadas e tão depressa nenhum se sobreporá ao outro, por muito que nos soubesse bem sermos definitivos sobre o desfecho.
Mérito para Cândida Pinto - e mérito também para Jorge Pelicano, autor dos documentários Ainda Há Pastores? ou Pare Escute Olhe! Há algo de profundamente contemporâneo no resultado final. E de profundamente antigo também: algo do tempo em que o jornalismo contava histórias independentemente da agenda mediática e era ainda capaz de mobilizar o público para uma causa sem que viesse de imediato contaminado de indícios de que, em breve, os protagonistas da boa vontade se sobreporiam aos protagonistas da história.
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