Boa noite. Fechamos esta sexta-feira com mais uma crónica de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.
Publicidade gratuita?
Aquilo que os franceses fazem não deve, se calhar, interessar-nos senão na estrita medida em que venha a influenciar o que os portugueses acabam por fazer. Infelizmente - e este "infelizmente" é ponderado -, Paris continua a exercer uma influência significativa sobre muitos dos nossos intelectuais e dos nossos decisores, que a vêem muitas vezes como a pátria da bem-aventurança. Daí que me preocupe esta decisão do Conselho Superior de Audiovisual de França proibindo o uso das palavras "Facebook" e "Twitter" na televisão, de forma a evitar a "publicidade gratuita".
Confronto-me com esta realidade sempre que, por exemplo, passo pelos Açores, onde os jornalistas da TV e da rádio públicas passam a vida a fintar, de forma aliás bastante cómica, as marcas comerciais, referindo-se a "uma fábrica micaelense de charutos", "uma unidade hoteleira de Angra" ou "uma cooperativa queijeira da ilha de São Jorge". Parece que voltei atrás no tempo - isto é, ao pior que esse tempo tinha, incluindo a hipocrisia e a dissimulação -, mas não ligo: a província é dada a idiossincrasias desta natureza. Coisa diferente é, necessariamente, a informação nacional, onde a hipocrisia é mais bem disfarçada, mas existe - e, aliás, pode ganhar uma nova legitimidade com esta decisão francesa.
As marcas comerciais são personagens da vida quotidiana. Têm tanto direito a existir como as pessoas e os lugares, muitas vezes estes (e estas) de vocação tão comercial como elas. Porque é que um escritor que vende os seus livros pode publicitá-los gratuitamente na televisão e um tipo que vende batatas fritas ou chapéus-de-chuva não pode? Eis o que nunca alguém foi capaz de explicar-me.
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