Boa noite. Em fecho, esta noite, mais uma crónica de Nuno Azinheira, retirada do Diário de Notícias
Mistérios de Fragoso
Eu sei que a RTP1 não deve programar com vista às audiências. Eu sei que a RTP1 deve procurar uma programação alternativa às privadas. Eu sei que a RTP1 deve, mais do que procurar a competição, produzir e exibir bons conteúdos. Eu sei que a RTP1 deve preocupar-se, fundamentalmente, em apoiar e promover a ficção em português. Tudo isso é certo e (quase) tudo isso, reconheça-se, a televisão pública tem conseguido cumprir. Mas, caramba, não é preciso ser mais papista do que o papa. No actual contexto audiovisual, programar Mistérios de Lisboa, uma série e filme de Raúl Ruiz baseados na obra de Camilo Castelo Branco, a um domingo à noite é votá-la ao mais absoluto desprezo televisivo. Na primeira semana ainda registou 350 mil espectadores às dez da noite, mas nas últimas duas exibições não ultrapassou os 180 mil, ou seja 5% (leu bem, cinco por cento) dos portugueses que viam televisão àquela hora.
José Fragoso não tem culpa de que os portugueses prefiram ver as tontices de José Castelo-Branco nas tribos ou os dramas nos gordos na herdade, é verdade. Mas tem culpa de, sabendo que a sua obra de ficção ia ser arrasada pelos reality shows da concorrência, ter, mesmo assim, insistido no domingo para o exibir. E é uma pena.
Promover o cinema português, respeitar os realizadores, produtores e actores, honrar as tradições de um nome maior da literatura portuguesa, incentivar a indústria audiovisual portuguesa, coisas que Fragoso, reconheça-se, tem sabido fazer neste seu consulado na televisão pública, é também perceber quais os melhores dias e horários para exibir determinado tipo de conteúdos. Porque o serviço público só se faz (bem) se ele chegar aos públicos que vêem televisão.
Um comentário:
Essa série é uma chatice, um atentado à inteligência e uma incursão aos bolsos dos contribuintes que se vêm obrigados a sustentar pseudo-realizadores incompetentes e actores que não sabem representar!
Oxalá a RTP seja privatizada quanto antes para se acabarem estes lobbys ditos culturais que só servem para sustentar parasitas e subsídio-dependentes.
Se querem viver da arte façam-no de uma forma suficientemente interessante e competente de maneira a captarem a atenção de quem consome essa arte; esta estória de dar dinheiro a uns quantos macacos para fazerem filmes e peças de teatro que ninguém está interessado em ver tem que acabar de uma vez por todas. Que raio, há gente com fome neste país. Deixem de sustentar esta gentinha sem talento que vive à custa de quem trabalha!
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