26 de abril de 2011

Fecho

                                  

Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.

Jornalistas e cidadãos


Jornalista há duas décadas, habituei-me aos andrajos com que tantos colegas de profissão fazem questão de sublinhar a sua liberdade de espírito. Na TV, claro, está tudo engravatadinho. Mas a regra em vigor na minha classe, agora como há uma série de anos, é clara: em não havendo "vivo" televisivo, quanto mais mal vestido melhor. Por detrás da câmara que filma um engravatadinho, pois, há quase sempre um tipo de calças de ganga sebosas e sapatos de trekking tão sujos como se tivessem acabado de chegar da montanha - e à volta desse tipo, sentadas pelo chão, há pessoas de calções, de chinelos, até de camisas de alças.

Normalmente, é-me indiferente. Mas, agora que anda aí a troika, vou encontrando jornalistas um pouco por toda a cidade, à espera de ouvir este ou aquele, aguardando o fim desta reunião ou daquela - e os quadros que encontro constrangem-me. Parece moralismo, mas não é. O aspecto (e o comportamento) andrajoso dos jornalistas, sabe-o bem quem quer que tenha andado em reportagem pelo estrangeiro, é muito mais tipicamente coisa de país periférico, quase sempre pobre e tantas vezes latino, o que, neste caso, não deixará de ter pelo menos algum significado para a dita troika. Por outro lado, não me parece propriamente apaziguador, num momento em que tanto precisamos dos jornalistas para nos ajudarem a decifrar tão intrincadas negociações, que eles se considerem os únicos dispensados de se apresentarem consoante a gravidade do momento.

Facto: grassa entre os jornalistas a ideia de que lhes cabe testemunhar, testar e invectivar, mas no fundo não é nada com eles. E talvez isso ajude a explicar a progressiva marginalização do jornalismo tradicional, TV incluída.



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