Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Nuno Azinheira, retirada do Diário de Notícias.
É impossível dizer se José Sócrates teria sido primeiro-ministro deste País sem televisão. Mas é óbvio para qualquer observador que o "animal feroz" construiu a sua imagem no pequeno ecrã. Primeiro como comentador, ainda na RTP1. Corria o ano de 2002, Durão Barroso estava em S. Bento e Sócrates e Santana Lopes debatiam a actualidade política ao domingo à noite na estação do Estado.
Foi, pois, na televisão que se tornou conhecido dos portugueses, foi na televisão que ensaiou as suas mudanças de humor: ou quando se irritou com José Alberto Carvalho e Judite Sousa na RTP1, na fase mais irada da sua governação, ou quando foi cândido e doce com Ana Lourenço, na SIC, após a derrota nas Europeias de há dois anos.
Foi na televisão, a pensar nela e no seu impacto, que Sócrates governou, sabendo do poder das imagens, do marketing, mais na forma do que no conteúdo. Foi pela televisão, e a pensar nela, que o engenheiro aprendeu a falar com teleponto, tornando-se no primeiro primeiro-ministro português treinado para falar às massas, num contexto global.
Sou dos que acham que não vale a pena antecipar cenários. Sócrates não está morto, e já provou ser um resistente. Mas não deixa de ser irónico que um primeiro-ministro construído na TV cometa harakiri na televisão. Aquela dúvida metódica socrática ("fico melhor a olhar para aqui ou para ali?"), transmitida pela RTP e TVI, antes de comunicar ao País o pedido de ajuda externa, vai sair-lhe cara.
Neste contexto, o grave não é o que as imagens mostram, é sim a interpretação popular que as imagens permitem.
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