Volto a olhar para o "caso Homens da Luta", incluindo esta sua nova (e inesperada) inclinação para se levarem a sério, e vejo de repente fazer-se luz sobre uma suspeita que já tinha, mas ainda não conseguira sistematizar: os humoristas profissionais têm, regra geral, muito pouco sentido de humor. Aliás, isso parece-me agora tão claro que o mais provável é estar já mais do que fixado no cânone, humilhando-me a mim e à minha incultura.
E, porém, nunca é tarde para perceber algo verdadeiramente fundador na cultura pop ocidental, com expressão (percebo-o agora) no cinema, na música e, naturalmente, na televisão também.
Um humorista profissional, como a ficção já se esforçou por nos demonstrar, pode ser um verdadeiro escravo da obrigação de fazer rir, o que é de facto uma coisa muito pouco engraçada.
Entretanto, há a pequenez do País, no qual a snobeira é às vezes recurso suficiente para forjar ascendente sobre o próximo - e, perante tal subalternidade, um expediente de tão fácil acesso pode ser uma tentação.
Depois, há ainda a chamada deformação profissional. Conhecedores das técnicas, os humoristas profissionais são também muito mais dificilmente surpreendíveis, mesmo por si próprios.
Por um lado, rir um riso franco torna-se, para eles, quase impossível. Por outro, a autodepreciação, ela própria uma técnica humorística, há-de acabar por se transformar, por familiaridade, numa couraça. Num filtro.
Conheço uma série de humoristas profissionais. Em muitos casos, pareceu-me sempre que alguma coisa ali não batia certo.
Os Homens da Luta ajudaram-me a perceber, afinal, algo muito maior do que eles. Só por isso, já valeu a pena esta saga.
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