4 de março de 2011

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje incluí mais uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.


Uma festa decrépita

Não falo apenas do deserto de criatividade e de carisma em que redundou a apresentação de Anne Hathaway e James Franco (e, aliás, o guião de que os muniram). A 83.ª cerimónia de entrega dos Prémios da Academia das Artes e Ciências de Hollywood, vulgo Óscares, foi, na sua globalidade, mais pobre do que a do ano passado, curiosamente já mais pobre do que a do ano anterior - e, feitas as contas, apenas veio reforçar a ideia de uma indústria cristalizada, anquilosada e determinada a desperdiçar a primeira grande crise global do seu segundo século de vida (o século da maturidade, supunha-se) e a oportunidade que aquela podia representar para o triunfo de novas soluções criativas.


Chegámos a um ponto em que os desastrados comentários dos habituais narradores da TVI não chateiam. Basicamente, já nem sequer inquieta que eles pisem o que dizem as estrelas. Se as intervenções dos apresentadores são paupérrimas, os colóquios daqueles a quem cabe anunciar os vencedores são mais pobres ainda. E, se se trata de diálogos em vez de colóquios, então é tudo definitivamente penoso. Espectador desde a infância, ando tão aborrecido com a cerimónia que, este ano, nem sequer a vi em directo, mas gravada. E, mesmo assim, senti vergonha em vários momentos. Inclusive naqueles em que subiram ao palco autênticos monstros sagrados das emoções, da sua interpretação e das suas recombinações.

Não sou do tempo de Bob Hope, mas sou do tempo de Billy Cristal. E Billy Cristal era capaz de transformar a sombria depressão colectiva global dos anos 80 e 90 em alguma coisa nova. Neste tempo, não nos resta senão esperar pelo próximo artifício formal de James Cameron. Temos o que merecemos, provavelmente.


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