A morte dramática de Carlos Castro ficará, na história da televisão em Portugal, como um exemplo claro de "infotainment" (em português, "infotenimento", misto de informação com entretenimento). Tem tudo o que é preciso.
À partida, dada a relevância do cronista e a violência do assassinato, estamos perante uma verdadeira notícia. Mas quando os telejornais das televisões generalistas ultrapassam o facto, para o transformar num continuum noticioso, estendendo artificialmente a informação (como têm feito, em maior ou menor grau, SIC, TVI e RTP), estamos perante uma info-telenovela, criada para "vender", no apelo às emoções mais primárias dos telespectadores.
É isso que justifica a falta de isenção, traduzida na narrativa conveniente que nos vem sendo apresentada. Renato Seabra é o "bom menino", por quem chora a mãe que corre a apoiá-lo, e cuja bondade é testemunhada pela irmã, cunhado e amigos; do pai, também nos EUA, não reza a história. Carlos Castro, a vítima, é o subentendido vilão, na pele de um homossexual, velho e desviante, afinal "o verdadeiro culpado".
É a esta luz que se deve entender o debate, feito em torno da orientação sexual e das qualidades humanas do presumível assassino. Porém, sabemos bem que nada é assim tão simples. O mundo societal não é só a preto e branco, há mais cores.
Alguém que comete um acto violento pode ser um bom pai, um bom filho, um bom amigo. Do mesmo modo, uma mesma pessoa pode ter uma relação heterossexual e, ao lado, uma outra, homossexual ... O que espanta é que tenham aparecido nos telejornais, técnicos encartados prontos a especular sobre estes assuntos, sem verdadeiro conhecimento dos factos, olhando-se no espelho do seu senso comum douto, vaidosos dos minutos de fama conseguidos. O sensacionalismo, a "tabloidização" da informação, a aposta no "interesse humano" das notícias vai-se consolidando nas televisões. E nem a estação pública escapa.
Ainda na quinta-feira, Judite de Sousa convidou o psiquiatra Carlos Amaral Dias para ir à "Grande Entrevista", na RTP1, falar sobre o assunto. Entrevistadora e entrevistado conseguiram, se bem entendi o que foi dito, chegar ao diagnóstico da maleita psicológica que terá acometido o jovem indiciado por assassínio, levando-o aos terríveis actos. Uma "psicose reactiva", acho eu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário