Boa noite. Hoje, em fecho, trazemos-lhe mais uma crónica de autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.
Oportunidade e oportunismo
1. Nunca fui um grande admirador de Acontece, mas por outro lado admirei sempre menos ainda os seus sucedâneos, tanto o Câmara Clara como aquele que era apresentado por Anabela Mota Ribeiro. No essencial, e quanto à morte de Carlos Pinto Coelho, lamento em primeiro lugar o desaparecimento de um homem, em segundo lugar o desaparecimento de um homem que muitos diziam ser bom e em terceiro lugar o desaparecimento de um jornalista que eu próprio sei ter sido apaixonado como poucos. Quando ao resto, choca-me a demagogia e o oportunismo. Disse Lídia Jorge, por alturas do funeral, que o fim do Acontece significara "a morte" de Pinto Coelho "como jornalista e pessoa da cultura" - e rapidamente vários jornalistas foram perguntar ao ex-ministro da tutela Morais Sarmento se, posto perante uma oportunidade de corrigir a decisão de acabar com o programa, tomada em 2003, a repetiria agora, assim matando novamente um homem com as suas próprias mãos. Tive vergonha.
2. Não sei exactamente o que motivou Heidi Jones, apresentadora da cadeia norte-americana WABC e colaboradora do célebre Good Morning América (ABC News), a inventar uma violação no Central Park. Mas posso especular, porque conheço bem as vantagens que uma onda de solidariedade como aquela que a denúncia espoletou poder trazer a uma carreira na televisão. Facto: a concorrência na TV está cada vez mais agressiva. Facto também: estamos cada vez mais à mercê de golpes de teatro deste género. Heidi não é a primeira personalidade televisiva a reclamar-se vítima de uma agressão sexual que não aconteceu - e isso diz quase tudo.
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