11 de dezembro de 2010

Fecho

Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Marco Contumélias retirada do Jornal de Notícias.

Saberes

A multiplicidade de canais disponíveis permite, a qualquer um que saiba o que procura, construir a sua própria grelha de programas, variada e de qualidade. E não é preciso ir muito longe. Por exemplo, na RTP2, ao domingo, há três programas que merecem atenção.

Falo de "Grandes Livros", "Ingrediente Secreto" e "Onda Curta". São programas de média duração (entre os 25 e os 30 minutos), leves, interessantes, úteis mas bem diversos. E enriquecem-nos culturalmente, produzem saberes quase sem darmos por isso.


No primeiro caso, trata-se de uma segunda série de 11 episódios, cada um deles dedicado a um livro estimável, por vezes uma obra incontornável mas injustamente esquecida, ou quase, como é o caso de "uma Abelha na Chuva", de Carlos de Oliveira.


Na mais recente edição coube a vez a "Bichos", de Miguel Torga. Revisitou-se o texto, fez-se dele uma interpretação clara, acompanhada de um retrato vivo do autor. Ressaltou a dimensão oculta de "Bichos", sentiu-se a força telúrica de Torga, o seu humanismo, o seu compromisso com a liberdade. Foi bom e soube a pouco este reencontro com este "semeador de palavras" como poucos, um homem que soube encontrar o seu nome verdadeiro, para lá do que lhe deram na pia baptismal.


De outra galáxia vem o «chef» Henrique Sá Pessoa, com um programa em que cada uma das 13 edições é dedicada a um alimento comum, para o qual apresenta várias sugestões de confecção fácil. Falta dizer que "Ingrediente Secreto" é moderno, sem tempos mortos, com bom gosto e informação variada (inclui apontamentos de reportagem) relacionada com o alimento em foco.


No último domingo, Henrique Sá Pessoa, também um bom comunicador, sugeriu quatro hipóteses para cozinhar cogumelos; por mim, que entendo a cozinha como a melhor das terapias ocupacionais, vou experimentá-las todas...


Finalmente, em "Onda Curta" encontramos saborosas curtas metragens, portuguesas e estrangeiras, numa clara demonstração de que há bom cinema sem orçamentos milionários, com boas histórias contadas em poucos minutos. Para mais, as "curtas" são um campo experimental em que se vão revelando novos valores e formas alternativas de entender o exercício da "sétima arte".


Claro que aparecem filmes menos interessantes, a par com trabalhos mais bem conseguidos, como o recentemente exibido "Sweet Karolinne", da brasileira Ana Bárbara Ramos. Seja como for, o "Onda Curta" é um programa a não perder.


E assim, entre a literatura, a culinária e o cinema, se produzem saberes, dos tais que não ocupam lugar e constituem, ao mesmo tempo, uma aprendizagem sobre a forma de não perder tempo a ver televisão. É preciso saber escolher.


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