Há uma coisa ainda mais provinciana do que seguir com excessivo deleite e comovido orgulho pátrio a carreira de Daniela Ruah nos Estados Unidos: é a obsessão de evitar o excessivo deleite e o comovido orgulho pátrio e, portanto, segui-la com amargo ressentimento. Não vale a pena mistificar: Daniela é uma mulher linda, com várias das condições habitualmente exigidas às jovens candidatas a divas - e, se ainda não demonstrou ser uma "actriz", pelo menos no sentido clássico da palavra, foi porque toda a vida tem andado, para mal dos seus pecados, em projectos artisticamente paupérrimos. Vale a pena acompanhá--la e, de alguma forma, viver com ela a euforia de cada uma das etapas queimadas na sua escalada em direcção ao estrelato, incluindo esta recente passagem pelo marginal-mas-não-tanto Late Late Show (CBS), apresentado por Craig Fergu-son. Por outro lado, é a própria Daniela Ruah quem sublinha que é "filha" de pais portugueses e "cresceu" em Portugal, transformando aquilo que agora tão obsidiantemente nos enche de orgulho numa referência sobretudo exótica da sua biografia, a que de resto pode recorrer sempre que (e apenas quando) lhe der jeito. E só há uma coisa mais provinciana ainda do que seguir com comovido orgulho pátrio ou amargo ressentimento o seu percurso. É querer à força que ela seja uma coisa que não quer ser: uma portuguesa de Portu gal, ainda que circunstancialmente nascida no Massachusetts.
Não é só em França que existe o "estigma da porteira": também nos Estados Unidos, terra de oportunidades, somos vistos como um povo trabalhador, mas tonto. É isso que nos reduz ao exotismo. E o mais provável é que, de facto, esse exotismo não seja lisonjeiro.
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