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Mário Crespo, já aqui o disse, era o pivot português que mais confortável me fazia sentir enquanto espectador de telejornais. Ao contrário dos seus tempos na RTP, em que pôs em prática um jornalismo algo "espectacular" (mesmo conspícuo), na SIC usou sempre a antena de um modo "suave", fazendo-se valer da idade, da experiência e até de um saudável "cinismo" para ajudar- -nos a formar uma visão sábia e até "existencialista" do mundo. Cada uma destas aspas precisava de uma decifração que não cabe aqui. Mas o essencial é isso: Mário Crespo era o melhor. O affaire em que se envolveu após o primeiro-ministro supostamente tê-lo considerado "um caso a resolver" (e o JN lhe ter negado a publicação de uma crónica em que o relatava) mudou a sua imagem. Ora, se há uma coisa de que a relação entre o espectador e os seus pivots depende é da imagem destes. Atente-se nesta expressão: era "confortável" que Mário Crespo me (nos) deixava. Ninguém alguma vez pensou que estava na presença de Bob Woodward, de Seymour Hersh ou de Ryszard Kapuscinski. Era de um descodificador de notícias que se tratava, não de um produtor delas - e muito menos de um protagonista das mesmas.
Dirá Mário Crespo que, ao levar tão longe os seus protestos, em entrevistas sucessivas e intervenções avulsas, fez apenas o seu dever. Talvez. Mas, inevitavelmente, não é o mesmo jornalista que era há um mês. E, mesmo que tenha mudado para melhor, o facto é: a mim já não me serve enquanto pivot de vocação late night, horário em que é suposto respirarmos fundo e olharmos para a marcha das gentes com alguma serenidade, alguma perspectiva, até alguma bonomia. Serei o único?
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