Hoje (terça-feira), pelas 7 da manhã, na A4 direcção Amarante-Porto, uma camioneta que transportava 7 pessoas, todos eles empreiteiros a caminho do seu local de trabalho, despistou-se por causas ainda por apurar, tendo ido embater num pesado. Este acidente resultou em 5 mortos e 3 feridos.
Pouco depois do acidente, apressada a caminho da Estação de Campanhã para ir apanhar o comboio para Lisboa, o trânsito obrigou-me a parar. As ambulâncias acorriam ao local, e não faltou muito para que todos abandonassem os seus veículos para ir ver o aparato. Nunca percebi o mórbido desejo que o português tem em ver sangue derramado na estrada. Subitamente, aquela via fez-me lembrar uma autêntica feira. Tivessem lá as farturas gordurosas e umas quantas peças de roupa, bem me iria assustar, pensando ter-me enganado no caminho.
Mas já estamos todos habituados que assim seja. Não podemos negligenciar o facto de a grande maioria daquelas pessoas paradas na estrada estarem a caminho dos seus empregos, com compromissos inadiáveis, e que jamais imaginariam deparar-se com aquele infeliz acidente. Contudo, se para alguns o acidente atrasou compromissos, para outros o seu trabalho é esse mesmo. E hoje, confesso, apercebi-me que tudo vale por uma notícia.
Nunca tive grande prazer em acidentes, pelo que me deixei ficar no carro. Com espanto, observo que, provavelmente meia-hora depois de ter parado naquela auto-estrada, aparece da faixa contrária um carro da TVI, e sem modas, estacionou na berma. É de salientar que se trata de uma berma extremamente pequena, logo o veículo ficou metade de fora. Relembro aos leitores que se tratava de uma via rápida, e na faixa contrária os carros circulavam com limite até 120km. Todavia, pela notícia vale tudo, e foi vê-los a correr do carro, atravessar a faixa de rodagem, para acorrer ao acidente.
Quando saí da zona do acidente por volta das nove horas, ele ali continuava, em posição notoriamente transtornadora para os veículos que circulavam.
Prova provada, pela informação vale tudo. E, realmente, ainda conseguiram transmitir imagens nos jornais da manhã. Curioso seria saber o que teria acontecido se, hoje de manhã, em vez de noticiado um acidente, tivéssemos a infelicidade de ver dois.
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