14 de fevereiro de 2011

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.


Polígrafos humanos

Há alguma coisa em Lie To Me (Fox, segunda temporada em curso) que a distingue da restante oferta televisiva. Podia ser Tim Roth, mas a sua colagem a uma série de outros modelos nem sequer faz propriamente jus ao génio em causa. Podia ser Kelli Williams, um daqueles pequenos milagres em que de repente parece combinarem-se toda a sabedoria e toda a frescura do mundo, mas por outro lado há muito tempo que uma mulher bonita não chega para suportar uma série. Podiam ser os diálogos ou a realização, a banda sonora ou mesmo as intrigas, não fosse dar-se o caso de as intrigas serem normalmente banais - e, aliás, de os diálogos, a realização e a banda sonora em nada se destacarem da mediania.

O que distingue Lie To Me da restante oferta televisiva, na verdade, é o mesmo que a une àquilo que um dia foi House M.D.: tratar-se, antes do mais, de um exercício sobre a verdade, a obsessão da verdade e, apesar desta, a relatividade da verdade. Dizia Gregory House, nos bons tempos: "Toda a gente mente." Diz agora Cal Lightman: "A questão não é se ele está a mentir, é porquê." E aí vai ele, dando baixa de cada um dos pontos da sua check list, identificando tiques inesperados e tons de voz assimétricos e respirações demasiado longas - toda a parafernália de pequenas reacções através das quais, garante, nos denunciamos a cada instante.


Objectivo final: o próprio jogo, muito mais do que o seu desenlace. Bem feito o trabalho, e apesar de nenhum dos investigadores ser polícia, o bem prevalecerá. Mesmo que isso signifique sacrificar a verdade. Aliás: muito mais deliciosamente se, de facto, for preciso sacrificá-la. Que lhe atire a primeira pedra quem for capaz de resistir a isto.

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