Há alguma coisa em Lie To Me (Fox, segunda temporada em curso) que a distingue da restante oferta televisiva. Podia ser Tim Roth, mas a sua colagem a uma série de outros modelos nem sequer faz propriamente jus ao génio em causa. Podia ser Kelli Williams, um daqueles pequenos milagres em que de repente parece combinarem-se toda a sabedoria e toda a frescura do mundo, mas por outro lado há muito tempo que uma mulher bonita não chega para suportar uma série. Podiam ser os diálogos ou a realização, a banda sonora ou mesmo as intrigas, não fosse dar-se o caso de as intrigas serem normalmente banais - e, aliás, de os diálogos, a realização e a banda sonora em nada se destacarem da mediania.
O que distingue Lie To Me da restante oferta televisiva, na verdade, é o mesmo que a une àquilo que um dia foi House M.D.: tratar-se, antes do mais, de um exercício sobre a verdade, a obsessão da verdade e, apesar desta, a relatividade da verdade. Dizia Gregory House, nos bons tempos: "Toda a gente mente." Diz agora Cal Lightman: "A questão não é se ele está a mentir, é porquê." E aí vai ele, dando baixa de cada um dos pontos da sua check list, identificando tiques inesperados e tons de voz assimétricos e respirações demasiado longas - toda a parafernália de pequenas reacções através das quais, garante, nos denunciamos a cada instante.
Objectivo final: o próprio jogo, muito mais do que o seu desenlace. Bem feito o trabalho, e apesar de nenhum dos investigadores ser polícia, o bem prevalecerá. Mesmo que isso signifique sacrificar a verdade. Aliás: muito mais deliciosamente se, de facto, for preciso sacrificá-la. Que lhe atire a primeira pedra quem for capaz de resistir a isto.
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