Falar Televisão

Sinal dos tempos

E o inevitável aconteceu. No passado sábado os canais por cabo bateram historicamente a televisão generalista nacional. Com uma cota de mercado a superar os 26 pontos, os canais pagos conseguiram alcançar o primeiro posto depois de, por várias vezes e noutras ocasiões semelhantes, terem já ameaçado a liderança.

Mas esta subida não foi, de todo, espontânea nem surpreendente. O Cabo tem vindo a ganhar seguidores a um ritmo alucinante. Se há cerca de 12 anos a marca TV Cabo conseguia arrecadar uns pequeninos 2 pontos percentuais de cota de mercado, com o passar da década a fatia da televisão paga foi, também ela, crescendo. No último mês de Janeiro o Cabo conseguiu chegar a uma média total no all-day de 20% e no horário nobre de 18,9%.

Com uma fragmentação e com um consequente aparecimento da concorrência neste sector, a televisão por Cabo tem conseguindo oferecer cada vez mais comodidades ao telespectador, tornando-o assim num membro, também ele, cada vez mais activo na forma como vê televisão. Actualmente, cada um molda a televisão à sua semelhança, com a liberdade de poder ver o produto que quer, às horas que quer e quantas vezes lhe apetecer.

Mas se pensávamos que esta nova filosofia na forma de ver televisão apenas fosse seduzir públicos mais jovens e urbanos (em Lisboa o Cabo costuma liderar frequentemente nas audiências médias diárias) os resultados deste Sábado mostram-nos que, afinal, a ‘febre’ do Cabo já alastrou a todo o país.

Apesar das referidas disponibilidades técnicas da televisão por cabo, os históricos 26,5% não deixam de ser um aviso aos próprios programadores generalistas, alertando-os para uma reflexão profunda na forma como se programa e faz actualmente a televisão generalista portuguesa. Há que mudar não só a forma mas também o conteúdo da televisão aberta, principalmente nos crónicos dias televisivos como são os Sábados.

Parafraseando Nuno Santos, que curiosamente se prontificou a comentar estes resultados, este é mesmo um "sinal dos tempos".