22 de janeiro de 2011

Fecho

Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Nuno Azinheira, retirada do Diário de Notícias.


Mobilização e abstenção

Durante muitos anos, as noites eleitorais eram noites especiais para mim. Primeiro, porque sempre gostei de política e habituei-me a ouvir em casa os adultos a discutirem "assuntos de adultos". Aliás, felizmente, foram raras as vezes que ouvi da boca dos meus pais o sofisma educacional "Isso não são coisas para crianças". Em minha casa, todos os assuntos eram assuntos de crianças. Explicados de forma adequada à idade, claro, mas eu não ouvi a história da cegonha e de Paris e cresci num ambiente sadio de discussão onde conviviam à mesa uma comunista, um socialista, um social-democrata e ainda uma fanática admiradora do "general Eanes". Quando ainda andava na escola secundária, já comprava jornais, enquanto os meus amigos compravam livros do Patinhas. E quando, ainda antes dos 18 anos, entrei na rádio, habituei-me a fazer de tudo, de relatos de futebol à condução de programas especiais de noites eleitorais. Foram dez anos seguidos de campanhas eleitorais, de promessas, de beijinhos nas feiras, de viagens e de entrevistas. E nos domingos em que tudo terminava, a festa concluía-se com uma maratona informativa em directo, com projecções à boca da urna, resultados, reacções em directo, comentadores em estúdio e na televisão.



Quando troquei a rádio pelos jornais, passei a acompanhar as noites eleitorais como espectador através da TV. Eram horas sagradas, quase sempre vividas entre amigos. Os tempos mudaram, os políticos também e eu não perdi o gosto por política.



No próximo domingo, porém, não conto perder muito tempo em frente ao pequeno ecrã. Segundo os analistas, não estou "mobilizado". Que seja. De manhã, como sempre, vou votar. À noite... abstenho-me.


Nenhum comentário: