19 de janeiro de 2011

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.

Ícones do milénio

1. Não tenho dificuldade em perceber o sucesso de Anatomia de Grey. Com uma produção sofisticada e um considerável número de actores bonitos, a série tem uma intriga suficientemente vácua e uns diálogos suficientemente banais para agradar às massas sem, ao mesmo tempo, deixar-se apanhar nos modestos filtros de qualidade da crítica. Inquieta-me, no entanto, a aplicação a ela do selo "série de culto", a que a ABC recorre sempre que (como acontece agora) anuncia a gravação de mais uns episódios. Porque Anatomia de Grey não aquece nem arrefece. Amorna uns corações, talvez, mas não levanta uma questão, não revela um abismo e, sobretudo, não ofende quem quer que seja. Uma série incapaz de ofender (de incomodar) alguém simplesmente não pode ser uma "série de culto". Ou então sou eu que, no meio da diluição dos géneros e dos parâmetros, já nem sei o que "de culto" quer dizer.


2. Jamie Oliver exacerba a sua própria importância quando diz que Feed Me Better vai influenciar radicalmente os hábitos alimentares daqueles que, estando agora na escola, são os americanos do futuro. Mas a iniciativa (e o programa a ele associado) tem impacte, como se provou pela experiência em Inglaterra - e a resistência do sistema de ensino norte-americano (ou, pelo menos, de algumas escolas norte-americanas) ao projecto está a fornecer-lhe a publicidade de que ele precisava, travestindo-o ao mesmo tempo de "resistente", estatuto com alcance redobrado junto dos adolescentes. Depois de dois ou três anos em que a moda da TV sobre culinária passou a alimentar-se sobretudo de si própria, investindo mais nas personagens e menos nas ideias, o género dá, enfim, novo salto. Graças a Oliver.


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