A emissão especial que a SIC dedicou, durante toda a manhã de sexta-feira, a Júlia Pinheiro tem o seu quê de catarse. Porque ao tratar a apresentadora como uma espécie de D. Sebastião que regressa a casa numa manhã de nevoeiro, a SIC deixou bem claro o estado de orfandade em que estava: uma televisão que vive há anos o drama da depressão pós- -traumática, que perdeu o primeiro grande líder, a liderança, as suas maiores estrelas, a capacidade de investir e, por via disso, a capacidade de sonhar e de tocar as pessoas.
Apesar de todas as outras contratações, nenhuma foi como esta, no que objectivamente promete e no que simbolicamente representa. Júlia é a melhor apresentadora da televisão. Eu sei que isto não é consensual (a começar, aliás, por esta página...), mas o que Júlia fez nestes 18 anos de carreira televisiva, e com o sucesso que se lhe conhece, mostram uma mulher de armas, versátil, todo-o-terreno, poderosa e influente, atributos seguramente mais valiosos do que o estafado "tem a voz irritante" com que muitos a mimoseiam. Tem, de facto. E depois?
A chegada de Júlia à SIC representa um alívio simbólico em Carnaxide. Um voltar a sonhar. Um "é desta é que isto vai!". Naquela casa estão alguns dos melhores profissionais de televisão. E a chegada a casa de "um dos nossos" tem um poderoso efeito de contágio no grupo. Dir-se-á que não é isso que dá lideranças às televisões. Pois não. Mas é à luz desta catarse emocional que deve ser vista a emissão de sexta-feira, com tudo o que ela teve de teatral, exagerado ou até provinciano (os rissóis e bolinhos à espera de Júlia foram um must...). Primeiro, lambem-se as feridas. A vitória pode esperar.
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