Inquietam-me as razões por que nunca, até hoje, um canal português dedicara a José Mourinho uma reportagem especial do género da apresentada pela SIC na quinta-feira. Se ninguém teve antes semelhante ideia, só se pode deplorar a incompetência. Se teve e não a conseguiu levar a efeito, então há que questionar alguns aspectos do trabalho com que Carnaxide acaba de nos presentear.
José Mourinho, o Melhor Treinador do Mundo foi uma excelente ideia e foi um assinalável sucesso de televisão, mas nem por isso foi um excelente documentário. O texto era relativamente fraco. As perguntas restringiram-se quase totalmente às habituais indagações do comum futebolês. A forma, aliás, foi o mais conservadora possível. Mas, sobretudo, verificou-se uma gritante ausência de contraditório. Quem ali apareceu foi para falar bem apenas. E José Mourinho, sendo um génio - e, provavelmente, um fortíssimo candidato a "melhor treinador do mundo de todos os tempos", para usar a expressão de Jorge Mendes -, também cometeu erros, também fez inimigos e também justificou alguns dos inimigos que fez.
Com os contactos de Nuno Luz (sobretudo este), era fácil recrutar pelo menos um ou dois opositores, para ajudar a colocar as coisas em perspectiva. Se os autores da reportagem não se lembraram dessa necessidade, fizeram mal. Se José Mourinho só aceitou participar nesses termos, então é precisamente isso que devemos lamentar. Um homem também tem a dimensão dos seus inimigos, dos seus detractores, do lastro de rancores que deixa à sua passagem. E, perante tal unanimidade, a verdadeira grandeza do treinador do Real Madrid não podia nunca ficar inteiramente expressa.
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