Parece consensual, por esta altura, a reprovação da enorme exposição oferecida nos últimos dias pela RTP a Carlos Cruz. Diz o Provedor do Especta- dor que a atenção ao processo Casa Pia se justifica, mas que o desequilíbrio entre o tempo de antena concedido ao apresentador e o proporcionado aos restantes condenados não faz sentido. Sugere mesmo a ERC que a aparente falta de "respeito pelas decisões dos tribunais num Estado de direito" coloca em causa os "princípios éticos e deontológicos do jornalismo". Até o Conselho de Administração da empresa, no exercício do seu legítimo direito a uma visão dos acontecimentos, está de acordo: a mediatização de Carlos Cruz foi excessiva. Pois a mim, que vou assistindo com curiosidade a este quase inusitado debate entre as entidades a que cabe monitorizar o funcionamento da RTP nas suas várias vertentes, preocupa- -me sobretudo uma coisa: depois da cobertura da estação, incluindo directos, entrevistas e aparições especiais, eu próprio fiquei inseguro quanto à legitimidade do desfecho do processo Casa Pia. Não o estava antes. E, portanto, não me parece que tenha grande cabimento a defesa da Direcção de Informação de que a atenção dedicada a Carlos Cruz se deveu ao facto de haver entre os espectadores "dúvidas sobre o funcionamento da Justiça em Portugal".
Na verdade, essas dúvidas são uma consequência da cobertura (também) da RTP, muito mais do que uma causa. Para uma estação privada, cujas responsabilidades são diferentes, isso talvez fosse um êxito. No caso de uma estação pública, e tendo em conta a sua natureza, parece--me um fracasso. Mas é uma primeira leitura apenas. Ainda gostava de ver prolongado o debate. Assim como assim, são raros.
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