E o circo pega fogo...
Quase um milhão e meio de espectadores viram a entrevista do primeiro-ministro segunda-feira na RTP1. À mesma hora, 1,2 milhões de portugueses viam o jornal da TVI, que teve uma entrevista de dez minutos ao banqueiro Carlos Santos Ferreira. Na SIC quase um milhão de almas via a análise experiente de um antigo ministro das Finanças, José Silva Lopes, sobre a crise portuguesa. Ou seja, tudo somado, mais de três milhões de portugueses acompanharam na noite de segunda-feira a actualidade. E o que é a actualidade? O que é que preocupa realmente os portugueses? Mais do que a situação na Líbia, mais do que os fait-divers do futebol, que tanto nos entretêm diariamente, o que preocupa mesmo os cidadãos é a sua vida. Que vida vão ter no futuro imediato. Que ordenado vão ter no final do mês. Que subsídio de férias vão ter daqui a dois ou três meses. Que factura vão ter de pagar com a renda da casa na sequência da subida das taxas de juro.
Portugal está nesta encruzilhada. E os portugueses, mais do que nunca, percebem-na. E por isso nesta hora difícil, a informação televisiva, num país que lê cada vez menos jornais, conta. E conta muito. Os portugueses, estes três milhões de portugueses que viram televisão segunda-feira à noite, independentemente do sexo, do género, da posição social ou da dimensão da conta bancária, sabem que desta vez é a sério. Venham políticos, venham economistas, venham banqueiros, venham gurus internacionais. Venha um, venham todos. E traduzam-nos lá isso da dívida soberana, da subida das taxas de juro, do rating do Estado. E expliquem-nos tintim por tintim que mais nos vão cortar, que mais nos vão obrigar a pagar. Por uns momentos, enfim, o circo, os palhaços e as novelas podem esperar...
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