9 de janeiro de 2011

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje integra uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.

Pequenos prodígios

Tenho, em relação ao conceito por detrás de The Biggest Loser (para que a SIC há-de arranjar, suponho, nome mais adequado ao mercado nacional), um problema de natureza filosófica.


Comparado a outros reality shows, The Biggest Loser não deixa de ter um lado pedagógico importante. Mais do que a perda de peso, essencial numa sociedade que engorda a olhos vistos, propõe-se premiar o trabalho, nomeadamente o de quem conseguir emagrecer com base na chamada "força de vontade" - e só isso já o distingue de muitos adversários, em que o prémio vai quase sempre para o que for capaz, ao longo de três meses, de trabalhar menos e dizer mais baboseiras.


Acontece que, quanto mais gordo for o candidato, mais possibilidades tem de vencer, o que de imediato torna o programa num desfile de pequenos, digamos, prodígios. E acontece sobretudo que, se o processo de emagrecimento é vivido em público, nos seus esforços tanto como nas suas pontas soltas, o melhor que podemos dizer de um vencedor, no fim, é: "Parabéns pela tua força de vontade. Realmente, não ficaste nada mal para quem, no fundo, é repelente."


Basicamente, é o mesmo que se passa com as estrelas decadentes da TV que aumentam os peitos e, depois, se vêm gabar em público de os ter aumentado. Olhamos para elas e parabenizamo- -las, porque os peitos ficaram de facto bonitos. Mas não nos esquecemos de que, sendo assim, não passavam, na sua origem, de dois sacos de plástico vazios - e jamais deixaremos de os ver como dois sacos de plástico vazios aos quais, entretanto, alguém deu um jeitinho.


The Biggest Loser é isso: verdade a mais. Às vezes, poder varrer alguma poeira para debaixo do tapete é fundamental.


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