Tenho, em relação ao conceito por detrás de The Biggest Loser (para que a SIC há-de arranjar, suponho, nome mais adequado ao mercado nacional), um problema de natureza filosófica.
Comparado a outros reality shows, The Biggest Loser não deixa de ter um lado pedagógico importante. Mais do que a perda de peso, essencial numa sociedade que engorda a olhos vistos, propõe-se premiar o trabalho, nomeadamente o de quem conseguir emagrecer com base na chamada "força de vontade" - e só isso já o distingue de muitos adversários, em que o prémio vai quase sempre para o que for capaz, ao longo de três meses, de trabalhar menos e dizer mais baboseiras.
Acontece que, quanto mais gordo for o candidato, mais possibilidades tem de vencer, o que de imediato torna o programa num desfile de pequenos, digamos, prodígios. E acontece sobretudo que, se o processo de emagrecimento é vivido em público, nos seus esforços tanto como nas suas pontas soltas, o melhor que podemos dizer de um vencedor, no fim, é: "Parabéns pela tua força de vontade. Realmente, não ficaste nada mal para quem, no fundo, é repelente."
Basicamente, é o mesmo que se passa com as estrelas decadentes da TV que aumentam os peitos e, depois, se vêm gabar em público de os ter aumentado. Olhamos para elas e parabenizamo- -las, porque os peitos ficaram de facto bonitos. Mas não nos esquecemos de que, sendo assim, não passavam, na sua origem, de dois sacos de plástico vazios - e jamais deixaremos de os ver como dois sacos de plástico vazios aos quais, entretanto, alguém deu um jeitinho.
The Biggest Loser é isso: verdade a mais. Às vezes, poder varrer alguma poeira para debaixo do tapete é fundamental.
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