19 de novembro de 2010

Fecho


Boa noite. Hoje, em fecho, trazemos-lhe mais uma crónica retirada do Diário de Notícias e da autoria de Joel Neto.

A última geração

Também eu acabei por aderir, no Facebook, a esta brincadeira da identificação através dos bonecos e dos cromos que marcaram a nossa infância. Primeiro, no gozo, escolhi Eládio Clímaco; depois, mais a sério, optei por Statler e Waldorf (os dois, com dupla personalidade e tudo).

Há uns anos, teria ido por Tom Sawyer, que imitava descendo a mata do meu avô, saltando ao mesmo ritmo louco a que ele acompanhava um riverboat do Mississípi. Mas o tempo tornou-me cínico - e, ainda por cima, eu gosto disso.

Há nesta inocente iniciativa, porém, o sinal de um tempo que não volta a repetir-se. Basta pegar em mil pessoas que de alguma forma representem essa "geração dos anos 80" para percebê-lo: há apenas uns vinte/trinta bonecos diferentes nos seus perfis - e vários são aqueles (o Tintin, a Pantera Cor-de-Rosa, o Cebolinha) que se repetem até à exaustão. Pois nada disso tornará a acontecer.

Somos de um tempo em que a televisão verdadeiramente imperava. No dia seguinte a um episódio de Tom&Jerry, todos falámos sobre o Tom e o Jerry porque todos tínhamos visto esse episódio de Tom&Jerry.

Hoje, não se passa nada disso. A oferta é tanta, e tantas as plataformas, que raramente acontece dois miúdos na escola falarem da mesma coisa a que tenham assistido no dia anterior. Mais ainda: os miúdos falam to-dos de coisas diferentes e, mesmo assim, entendem-se.

Acabaram-se as gerações tradicionais - e a TV, há tantas décadas o epicentro da cultura pop, não pode ser dissociada disso. Fazer televisão, hoje em dia, exige que se tenha, mais do que qualquer outra coisa, consciência dessa limitação. Que grande parte da oferta agora existente, aliás, transformou numa oportunidade.

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