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Todos os anos é assim: uns raiozinhos de sol, e logo as televisões desatam em reportagens sobre as dietas, os ginásios e as novas colecções de biquínis em que as senhoras vão querer entrar. Só este sábado, contei quatro peças, espalhadas por vários canais, a anunciar que a loucura do Verão começa a instalar-se. Na Páscoa, já se sabe, teremos as filas para sair de Lisboa. Nos feriados de Junho, as reportagens nas praias, com imagens dos primeiros mergulhos a sério. E em Agosto, claro, os apontamentos, as historietas e até os directos das festas algarvias, cheias de jet set e de vox pop.
Todos os anos é assim e, pelos vistos, sempre assim será. Em Janeiro são as resoluções de Ano Novo, em Março as férias de sonho, em Outubro o regresso às aulas, em Dezembro os balanços do ano - tudo como uma espécie de check list à base de reportagens prontas a usar, em que é só esticar o microfone ao povo, mudar as proposições ao texto do ano passado e deixar tudo na edição para o tipo de montagem fazer igual a sempre. E a pergunta inevitável não é apenas: "Onde está a criatividade?" É também: "Onde está a dimensão humana em que deve fundamentar-se o jornalismo, incluindo o inevitável pressuposto de que cada história é uma história?"
O mundo mudou muito. As redacções estão depauperadas, a agenda está cheia de conferências de imprensa a propósito da crise e da corrupção - e, ainda por cima, o desemprego, as falências e as misérias fazem aumentar os roubos e os homicídios. Mas a primeira obrigação de um jornalista é ter um olhar sobre o mundo. Ora, se o seu olhar permanece o mesmo de sempre, tendo o mundo mudado tanto, o que se pode dizer desse jornalista?
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