Boa noite. O Fecho de hoje incluí uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.
Sem pés nem cabeça mesmo
Primeiro, parece um objecto estranho - e, quando se vai a ver melhor, é mesmo. Sem Pés nem Cabeça, que ocupa as madrugadas do Porto Canal, é um espécime único. Do ponto de vista do conteúdo, como que recupera o mote de Seinfeld, que a si próprio chamava "um programa sobre nada". Do ponto de vista da forma, faz lembrar (ainda que involuntariamente) Wayne's World, o show que, no filme homónimo de Penelope Spheeris (1992), Wayne Campbell (ou Mike Myers) conduzia numa obscura estação de cabo de Chicago.
Ao longo de uma hora (01.30- -02.30), uma única rapariga olha para a câmara e discorre sobre aquilo que lhe passa pela cabeça a pretexto das SMS enviadas pelos telespectadores. Curiosidade: a rapariga (Bárbara Rego) é linda - e o ostensivo sotaque nortenho em que se expressa apenas reforça o seu magnetismo. Problema: todos os espectadores estão ocupados apenas com a sua beleza - e o que daí resulta é precisamente isso: uma hora em que, exceptuando duas dúzias de chavões sobre as relações românticas, se fala de uma mulher e de como ela é bonita.
Não é bem televisão: é rádio com imagens - um programa nocturno para solitários, próximo da velha tradição onda média. E, no entanto, entranha-se-nos. Ao fim de duas ou três noites, "Baba" vira parte da família. Se estivesse num canal nacional, e tal como aconteceu a Wayne Campbell quando mudou para uma estação maior, roçaria o ridículo. Ali, no nosso único verdadeiro canal "de cabo", faz sentido. Estranhamente.
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