"Entrem lá e vejam a minha vidinha"
Agora não se coíbem dos beijinhos às mulheres, das lágrimas no cinema. Na hora da caça ao voto, vale tudo.
O que significa mostrar o "outro lado de um político"? A pergunta é minha, mas parte do pressuposto com que a SIC iniciou ontem uma série de reportagens, bem interessantes por sinal, sobre o lado mais privado dos principais candidatos às legislativas de 27 deste mês. Raquel Alexandra, a jornalista que assina as peças, é uma das mais bem preparadas profissionais da televisão portuguesa. É culta e informada, inteligente e perspicaz, tem uma boa relação com a maioria dos políticos portugueses, que lhe conhecem independência e honestidade.
Independentemente dos méritos de Raquel, o sucesso deste trabalho da SIC depende, porém, mais deles do que dela. Entendamo-nos: é evidente que são importantes as questões, a atitude e a seriedade de quem pergunta (e longe de mim tirar uma ponta de mérito a um trabalho jornalístico sério e de qualidade), mas aqui o que conta (e irrita...) é a disponibilidade demonstrada pelos políticos em abrirem a porta da sua vida. Percebe--se porquê. A três semanas das eleições vale tudo para piscar o olho, informalmente, ao eleitorado. Percebe--se que assim seja, mas irrita, reforço. Agora não se coíbem de serem beijados pelas mulheres à frente da câmara, não escondem que choram no cinema, dão ares de importante e recitam poesia, mostram um lado "mais humano". Mas bem sabemos como, passada a hora da caça ao voto, voltam a fechar-se, a esconder--se atrás dos assessores de imprensa e de imagem e a dizer que não falam da vida privada. Não falam de quê? Não gozem comigo!
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