Sou sensível aos argumentos de José Alberto de Carvalho sobre a suposta "sub-representação do PSD" na informação da RTP. Numa estação de televisão, como noutro órgão de comunicação social, fazer as contas ao tempo de emissão ocupado por cada partido, clube ou religião comporta o risco de que, em pouco tempo, tudo não passe de uma espécie de "jornalismo de Excel".
Mas não é por causa de uma metáfora bem achada que o argumento é blindado. Primeiro: vivendo à custa de capitais públicos, a RTP não tem (repito: não tem) direito a um jornalismo inteiramente livre, estando sujeita a exigências de equidade que, no caso das estações privadas, não serão nunca mais do que exigências de consciência.
Segundo: independentemente de haver ou não aqui problemas de consciência também, até porque não me parece que o pecúlio eleitoral deva ser o principal critério sobre a visibilidade de cada partido político, é consensual que, historicamente, o poder merece da parte da nossa estação pública um tempo de antena maior do que o da oposição. Terceiro: se a RTP (ou a RTP1, que é o que importa) fosse uma estação privada, livre para fazer jornalismo independente e, aliás, sujeita às mesmas pressões financeiras das suas concorrentes, incluindo a necessidade de seduzir determinados mercados e de manter a paz com outros, nenhuma destas questões sequer importava.
Assim, no pé em que estamos, a RTP tem tudo: é subvencionada em centenas de milhões, mas pode vender quase toda a publicidade que quer; tem constrangimentos a nível da equidade no tratamento dos protagonistas, mas pode sempre argumentar que o compromisso com o espectador não se coaduna com o "jornalismo de Excel". Melhor situação do que esta é difícil.
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