19 de junho de 2010

Para lá das 24

Pela última vez nesta semana, a opinião Para Lá das 24!

José Saramago, figura incontornável na literatura e na própria história recente de Portugal, morreu nesta sexta-feira. E foi sempre numa forma singular que fez, escreveu e criou o seu caminho, deixando para trás uma marca distinta na literatura portuguesa e mundial.
E talvez porque em tempo de despedida e de fim de ciclo também há lugar para a retrospecção, vamos analisar de que forma é que este grande escritor português esteve envolvido na própria televisão.
Sendo uma figura incontornável e até inconformada, o mediatismo foi algo que sempre o acompanhou. Criando ao longo da sua vida questões ditas fracturantes, nunca poupou críticas a regimes políticos ou religiosos, reflectindo na sua escrita muito própria essa sua opinião.

Não precisamos de recuar muito no tempo para comprovar esse explícito mediatismo de José Saramago. Há menos de um ano, aquando do lançamento da sua última obra - Caím - o escritor afirmou que a bíblia é um "manual de maus costumes", não poupando críticas à maneira, segundo a qual, toda a população religiosa foi manipulada e enganada ao longo dos séculos.

Sendo ele ateu convicto, estas declarações tomaram enormes proporções. E neste jogo de causa-efeito, Saramago foi catapultado para as televisões. Na RTP1 foi recebido por Judite Sousa, numa grande entrevista que procurava apenas saber o que o levou a fazer aquele tipo de acusações à instituição milenar que é a Igreja. Na SIC e sob moderação de Mário Crespo, foi posto frente-a-frente ao Padre Carreira das Neves, teólogo e quem naquele espaço humanizou a própria bíblia.

Todos estes confrontos, com esta espetacularidade inevitável da televisão, geraram o interesse por parte das massas. Marketing ou mera opinião ateísta, a verdade é que Saramago conseguiu difundir a sua opinião com uma grande "ajuda" da televisão.

No fundo, podemos concluir que José Saramago quando aparece no ecrã não aparece apenas, mas sim, está! E mesmo quando deixa de estar, como foi o caso de hoje, o mediatismo televisivo perdura e vai certamente continuar a perdurar, camuflado numa imortal admiração...

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