8 de maio de 2010

Fecho


Boa noite. O Fecho de hoje incluí mais uma crónica da autoria de Joel Neto, retirada do Diário de Notícias.
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Isto também é televisão

Ojá famigerado "acto irreflectido" de Ricardo Rodrigues, autor do inusitado "furto de gravador" que ofereceu à Sábado o furo da semana (o que seria inesperado até para a própria), não é um gesto serôdio apenas porque evoca esses tempos velhinhos em que eram os entrevistados a decidir qual o momento em que começa e qual o momento em que acaba uma entrevista. É um gesto serôdio também porque evoca esses tempos igualmente velhinhos em que uma entrevista era feita apenas com um gravador ou uma esferográfica em punho, sem que o olhar, o ouvido ou mesmo uma câmara de vídeo servissem para contar algo mais do que as meras palavras trocadas entre jornalista e entrevistado.


Na verdade, a gaffe de Ricardo Rodrigues é um alerta para todas as figuras públicas, inclusive de âmbito político (precisamente aquelas que, às vezes, mais demoram a aperceber-se da marcha do tempo). Uma entrevista, hoje, não é apenas uma entrevista. Os repórteres sabem que não pode sê-lo - e estão atentos. Entretanto, os editores pedem-lhes que tragam mais, incluído a narração das hesitações e dos risos, as fotos de bastidores e até imagens em vídeo para complementar o trabalho no site da publicação. E a uma figura pública só resta uma de duas coisas: ou ser natural em todos os gestos, na certeza de que não tem o que quer que seja a esconder, ou ponderar cada palavra, cada movimento e cada olhar, na certeza de que, tendo alguma coisa a esconder, ela facilmente será captada pela diversidade de técnicas e de meios que o repórter tem à sua disposição.


Talvez tudo isto seja irónico e cruel. Mas é suposto que os nossos servidores públicos não tenham perguntas tabu - ou não será?

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