Dobragem nunca mais!
Há um momento exemplar no programa dedicado por Oprah Winfrey a Kate e Gerry McCann (SIC, na segunda-feira). Seguido pelas câmaras, o casal tem uma reunião com o perito forense que está a desenhar um retrato de Maddie em 2009, altura em que a criança tem (ou teria) seis anos. Então, diz Kate: "Acho que essa imagem nos faz lembrar aquilo que nós perdemos. E sobretudo aquilo que a Maddie perdeu." E acrescenta Gerry: "Se essa Madeleine nos entrasse agora pela porta dentro, seria como se nunca se tivesse ausentado."
É um momento constrangedor. Kate e Gerry estão a olhar para o perito, mas a falar para as câmaras. E o espectador de Oprah, naturalmente, volta a questionar-se: "Até que ponto esta gente está a representar?" Pois é precisamente por isso que a dobragem do programa, em vez da sua competente legendagem, foi um erro crasso. Estava lá tudo o que era possível: uma tradução cuidada, uma locução cheia de ênfases - e ainda as pausas, os tiques e as repetições próprias da oralidade. Mas faltava a atmosfera. Faltavam as profundidades de campo das diferentes falas. Faltava o stereo. E faltavam as subtis nuances de tom, que sempre são o que mais significado tem numa conversa.
Talvez seja por isso que a ficção estrangeira desapareceu do nosso horário nobre generalista: porque temos um índice de iliteracia absurdo e muita gente não consegue sequer perceber as legendas. Mas o programa de Oprah não era ficção, pois não? Pois não?
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